Selo Ecetera

Letras et cetera - Revista Digital

Morre como um homem

Precisamos de despertar todas as manhãs
sem remédios

Precisamos de acordar embalados de impetuosidade
com o culto nos dentes
e a boca discreta

Com a razão embebida de ousadia
e a loucura nos braços

Esquecer os bailes da noite seguinte
dançar na escuridão do espaço que não reconhece o corpo

Não pensar na prostituição

As crianças ainda não acordaram
e a mãe não tem leite
nem pão

Precisamos de despertar todas as manhãs
sem remédios
acordar embalados de raiva

Com as orelhas moucas
e o nariz galanteador

Esquecer o turbilhão da noite seguinte
partir as rochas que alimentam o cadáver

Não pensar na redenção

Precisamos de acordar para procurar o pão
que temos de dar

Aos grãos que semeamos
nas trompas dum amor tão belo que nos fez deitar na ilusão
dum dormir calmo
e um levantar num lago de luz fresca com algas de união

Precisamos de despertar todas as manhãs
sem remédio

Morreremos com sono

Um sono imenso
enleado nos sonhos enterrados
nas fibras da corda do nosso destino

Como nos pediram

Montefrio

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