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Letras et cetera - Revista Digital

Se és filho de antigos

Se és filho de antigos, saibas que houveram mais antigos;
antigos de antigos, até chegar a Jápeto, parente próximo do Caos.

- E não és senão um demais
uma enzima do acaso
que podre volta para o cais
por se ter esgotado o caso -

E o caminho que fizeste é o traçado pelos teus pais, pelos pais dos teus pais e tantos pais que jamais saberás os teus.

Até chegar a Jápeto - que dorme nos braços de Hades, que é correctivo do Caos -

- E não foste que artefacto
uma lousa com sinais
ténue faísca do facto
donde a causa era demais -

És filho de Géa como a cobra, o olho-de-boi e o escorpião, como os indómitos insectos; o teu espelho feminino e os calhaus que cobrem a tua podre Pandora

- E não és que uma coisa
metamorfoseada em banal
uma régua que em ti poisa
ínfima virgula num jornal -

És filho de deuses se fores filho de antigos, que foram filhos de antigos, e eram deuses;
farás deuses como te fizeram.
És homem-deus, como os deuses foram homens serás antigo,
como os antigos foram deuses

A tua existência espalha-se no Chronos, de metamorfose em metamorfose, segundo a sina das três Graças.

Se és filho de antigos, como os antigos, és idiossincrático; marinheiro ou fura-vidas, juiz ou vinhateiro.

E a tua irmã é a deusa do sol, da poupança e da exuberância, da beleza e da discrepância
com quem casarás e farás deuses modernos que advirão antigos, para aqueles que são modernos.

Que serão deuses e deusas, que advirão ovos de Pandora
e darão lugar a outros deuses,
até mais não haver ecos, na caixa de Pandora.

Que perderia a graça, se mais houvera.

Se és antigo, filho de antigos, tão antigos, que as tais Graças; Eufrosina, Aglaé e Tália, que eram as deusas do banquete, da dança, de todas as diversões sociais e das belas-artes. Que eram tuas antigas mães.

És antigo filho destas graças.

Então és filho de antigos, imortal, pai e mãe.

Deus filho da antiguidade.

Montefrio

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